10 de jul. de 2014

Maracaí, Saens Peña, e outras memórias afetivas de ônibus

Linha 221 (Maracaí x Praça XV): extinta no ano 2000. Foto: Companhia de Ônibus.

Dia desses, esperava um ônibus na Rua São Francisco Xavier, bem naquele ponto em frente à Escola Orsina da Fonseca, quando observei a placa que informava as linhas que paravam ali. Aproximei-me, analisando-a atento, pois o semblante era de surpresa ao perceber que a extinta linha 221 ainda constava na tal sinalização. 221! Quem se lembra dessa linha, Maracaí x Praça XV, que deixou de circular pelo bairro no início dos anos 2000?

Para quem não sabe, Maracaí é o nome de uma estradinha no Alto da Boa Vista já quase nas imediações de São Conrado, na Zona Sul. Tal linha, operada pela Auto Viação Tijuca (vulgo Tijuquinha), era a única cujo itinerário contemplava a Rua Mariz e Barros rumo à Usina (sim, não há mais linhas na Mariz e Barros que passem pela Usina).

Bateu uma onda nostálgica após esse encontro inesperado com uma placa – presto muita atenção em placas, diga-se de passagem. Recordei imediatamente as antigas pinturas que existiam nas latarias dos veículos, abolidas em 2010 com a padronização de cores por consórcios. É bem verdade que o sistema ficou mais organizado. Por outro lado, esquecemo-nos de que os ônibus, por mais odiosos que sejam no contexto do Rio, também têm o seu lado afetivo na vida dos cariocas.

Sou um usuário exemplar de transporte público desde os 10 anos de idade. Aqui na Tijuca, os ônibus mais marcantes para mim eram os da empresa Alpha e os da Tijuquinha. Afinal, eram os que eu mais pegava rumo à Zona Sul, no caso da Alpha, ou ao Centro, no caso da Tijuquinha. O layout de ambos era idêntico, mudando apenas a paleta de cores. Para a Alpha, tons avermelhados; para a Tijuquinha, azulados. E a Alpha sempre teve fama de possuir itinerários inseguros, alvo de assaltos.

Não bastasse o orgulho naturalmente bairrista do tijucano, além de uma empresa de ônibus com o nome do bairro, ainda tínhamos outra empresa cujo nome aludia à nossa principal praça, a Viação Saens Peña, com lataria que expunha em letras garrafais a sigla SP. O curioso era ver que mesmo com a alcunha tijucana, a empresa operava linhas bem longe do bairro, como a 125 – Central x General Osório ou a variante Central x Horto. Recentemente, a Viação Saens Peña mudou seu nome para Nossa Senhora das Graças. Fiel e orgulhoso tijucano que sou, obviamente preferia a versão antiga.

7 de jul. de 2014

A placa que parou no tempo

Na Usina, placa desatualizada ainda mostra entrada para o extinto Carrefour: negligência.

Quem vem do Alto da Boa Vista pela Rua Conde de Bonfim se depara com uma placa de trânsito da CET-Rio informando ao motorista que, à direita, está a entrada para o hipermercado Carrefour. Até aí tudo bem, não fosse pelo fato de que o Carrefour encerrou suas atividades na Usina em 2005.

Este caso é um exemplo perfeito de como a CET-Rio não tem tido o devido cuidado com a sinalização da Tijuca. Pretendo discorrer sobre esse tema em um post mais detalhado.

2 de jul. de 2014

O agonizante e venerável America Football Club: demolição à vista?

Sede do America Football Club: degradação das dependências do clube resultou na
suspensão das atividades no local.


“Hei de torcer, torcer, torcer...
Hei de torcer até morrer, morrer, morrer...
Pois a torcida americana é toda assim
A começar por mim
[...]
Campeões de 13, 16 e 22
Tra-la-la
Temos muitas glórias
E surgirão outras depois”


O trecho do hino americano, composto por Lamartine Babo, já não reflete tão bem assim o estado atual do America Football Club – pelo menos o da sua sede, na Rua Campos Sales 118, aqui na Tijuca. Da glória à agonia, o Mecão parece estar dando seus últimos gritos de dor. Porém, no que depender dos tijucanos, americanos e simpatizantes, haverá resistência!

Em nota oficial divulgada pelo site do America ontem, 1º de julho, o presidente Léo Barros Almada suspendeu, por prazo indeterminado, todas as atividades de caráter social que funcionam na Sede com o objetivo de “preservar a integridade física dos associados e frequentadores do clube”.

As razões para tal bombástica decisão estariam justificadas pela falta de verba na manutenção das dependências do clube, visivelmente degradadas e, recentemente, interditadas pelo Corpo de Bombeiros. Além disso, pesou o fato de que a Administração atual estaria muito insatisfeita em ceder lotes da Sede para atividades que nada tinham a ver com a finalidade do clube, sobretudo as ilegais. Há boatos de que um bingo clandestino estaria funcionando ali dentro. 

A notícia tomou um conhecimento maior do público após a publicação do Diário do Rio, em sua página no Facebook, sobre a Assembleia Geral dos sócios que, indignados, teriam votado contra o fechamento da Sede, promovendo, inclusive, um abaixo-assinado que exigia a destituição dos presidentes do Conselho de Administração e do Conselho Deliberativo.

Vista aérea de sede do America, na região da Praça Afonso Pena: localização cobiçada pelo setor
imobiliário e empreiteiras resultou no tombamento do imóvel, em 2012.  (Foto: Agência O Globo/Pedro Kirilos)

No entanto, em outro comunicado oficial do America, foi explicitado que, das 150 assinaturas exigidas para que tal “abaixo-assinado” surtisse efeito (isto é, valor correspondente a 1/5 do número de sócios adimplentes), foram contabilizadas 145 pessoas apenas em meio a “fraudes grosseiras e gritantes” como: duplicidade de firmas, nomes ilegíveis sem qualquer identificação, além da assinatura de sócios inadimplentes.

Em meio à polêmica de que o imóvel centenário do America seja exterminado da Rua Campos Sales para dar espaço a um centro comercial ou a um empreendimento imobiliário – o que seria impossível, neste último caso, já que o prédio é tombado e não pode ter outro uso se não esportivo, recreativo ou lúdico –, Almada afirma que há um grupo de trabalho envolvido na idealização de um novo prédio para a Sede americana no mesmo endereço:

“O Grupo de Trabalho, nessa fase inicial, manteve até o presente momento cinco reuniões com profissionais da área imobiliária, com profundo conhecimento nesse mercado, visando a construção da Nova Sede Social do América. Essas (reuniões) tiveram um único objetivo: tornar vitorioso o projeto (da Nova Sede Social americana), nos padrões mais modernos e confortáveis e de melhor relação custo-benefício para o América Football Club”.

O Conselho Administrativo sublinha que se mantém rígido no seu objetivo de “moralizar” o clube para que, deste modo, possa entregar ao quadro social uma nova sede condizente com as tradições do America e que resguarde o seu patrimônio.

Há controvérsias. 
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