19 de fev. de 2016

Tijuca: o túnel, a fronteira final

As menininhas tijucanas passeiam pelo calçadão da Saenz Peña num doce balanço a caminho da C&A. Assim era caracterizada uma das tantas facetas da vida adolescente na Tijuca dos anos 1990 pelo repórter Paulo Reis. A reportagem "Tijuca: o túnel, a fronteira final", foi veiculada no fascículo B/Zine, do extinto Jornal do Brasil, no longínquo domingo 1 de agosto de 1993. Voltado para o público jovem, o B/Zine trazia matérias semanais sobre estilo de vida e comportamento numa linguagem claramente direcionada ao jovem leitor da Zona Sul.

Na matéria em questão, a Tijuca é sublinhada pelo repórter como um bairro "além-túnel", mas que mesmo assim é digno de importância. Entre os tantos motivos de "dignidade", fala sobre as bandas de rock do bairro e as músicas que, compostas e saídas daqui, se tornaram conhecidas Brasil afora (assim como seus autores). Aborda-se também a vocação musical do shopping center (hoje considerado uma galeria) localizado no número 229 da Rua Conde de Bonfim, onde funcionou a danceteria Mamute e hoje abriga uma filial da Igreja Maranata. Era lá onde funcionavam estúdios de gravação, lojas de instrumentos musicais, além da locadora Video Center, a "melhor" em aluguéis de vídeos, games e CDs, com as maiores novidades daquela época.

Já no finalzinho do artigo, comenta-se sobre a chegada do Mc Donald's na Tijuca, por volta de meados de 1993. Embora considerada uma lanchonete bacana para os padrões do início daquela década, o Mc Donald's enfrentou resistências do tijucano por sua nada velada preferência pelo Bob's. Isso se confirma na fala de João Emídio, adolescente de 15 anos, quando aponta que "o único defeito do Mc Donald's era não ter milk shake de ovomaltine", carro-chefe do Bob's até os dias atuais.

Embora esta reportagem provavelmente tenha sido escrita por um estagiário ou jornalista iniciante, dado o caráter juvenil do fanzine, há uma menção histórica importante ali: a que fala sobre os adesivos I'm Tijuca distribuídos pelo Mc Donald's no momento de sua inauguração na Barão de Mesquita. O adesivo é, sem sobra de dúvidas, uma peça rara, difícil de achar ou até mesmo comprar. Por outro lado, encontrei o dito cujo há alguns meses colado resistentemente ao vidro da janela de um apartamento na pequenina Rua Piracicaba, entre Visconde de Figueiredo e Conselheiro Zenha. Um verdadeiro exemplar do orgulho tijucano incorporado ao slogan imperialista do Mc Donald's. Raro. Veja esta edição do JB na íntegra aqui: https://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19930801&printsec=frontpage&hl=pt-BR.

B/Zine, Jornal do Brasil, p. 10, 01/08/1993. 
Tijuca: o túnel, a fronteira final
Por Paulo Reis
Tem um túnel, o Rebouças. Ele é o elo perdido. De um lado, está a Lagoa, Ipanema, a Chaika, os shoppings e essas coisas que todo mundo conhece. Do outro lado, meu filho, está a Tijuca. Sabes lá o que é isso? Pois vamos explicar. Naquela imensa São Paulo, que começa na saída do Rebouças e sobe pelo Alto da Boa Vista, se esconde uma rapaziada pra lá de boa. Mas eu já sei, você não me engana. Já torceu o nariz e pensou: o máximo que pode sair da Tijuca é o Álvaro Valle. Caro amigo, você está desinformado. Não dá para esquecer que o peso-pesado do soul, Tim Maia, veio daquelas bandas. Que o Benjor inventou o sambalanço com guitarra lá. E que a Festa de Arromba do tremendão Erasmo e do Rei Roberto também foi por ali. Nos anos 80, a Tijuca botou no mundo um peixe pequeno do rock Brasil: Picassos Falsos. E Ed Motta ainda vive naquelas plagas. Acredita agora na importância da Tijuca, papudo? 
Ser tijucano é ser avant garde. É assim com Marcia Gonçalves, 28 anos, editora do fanzine BACKSTAGE. Respeitado no meio editorial, o zine tem all access em todos os grandes shows internacionais. Marcia acha que ser tijucano é muito bom. "Na Tijuca tem a melhor locadora de CDs e vídeos do Rio, a Video Center. Lá tem todas as novidades das lojas de fora. Só não existem lugares para shows de rock", fala Marcia. Ela sempre viveu na Tijuca e acha "muito muito legal não ser da zona sul". 
Se um skatista antes tinha que pegar o 415 para ir à pista do Rio Sul, hoje não precisa mais. O que não falta são picos para fazer manobras. Rodrigo Tavares, 14 anos, acha a Tijuca "muito irada, porque tem muita gente legal". Ele frequenta o point da Praça Xavier de Brito ou embaixo do viaduto do Maracanã. O grito de guerra é: "Maior cabeção. Tijucano até a morte!", avisa. 
Lá tem até estúdio. Os ex-Picassos Gustavo Corsi e Abilio Azambuja se juntaram ao Ivo Ricardo e fundaram o estúdio Pad e a loja Musix. Sabe onde? No shopping da antiga danceteria Mamute. Veja detalhes no texto abaixo. 
Estúdio, hambúrgueres, garotas: e o que você quer mais, amigão? 
Mas não é só de banda de garagem que vive o estúdio Pad. Tony Platão, Tânia Alves, Celso Blues Boy e a turma da Rio Sound Machine também ensaiam por lá. "A gente montou o estúdio porque tem muitas bandas aqui. E criamos a loja de instrumentos para facilidade de quem ensaia. Quando precisar de uma corda, é só atravessar o corredor", diz Gustavo. No futuro, os três músicos vão criar uma escola. "Três em um com garantia de qualidade", avisa Ivo. 
Cruzando pelo bairro, você dá de cara com o melhor sebo de quadrinhos da cidade, o Gibi Center, e também com a melhor loja de aluguel de CDs, a Video Center. Essa loja, que vive lotada, vende vídeos, games e CDs. Ana Elizabeth, uma das sócias, conta: "A loja atende em média 400 adolescentes por dia. São quase dez mil inscritos". Na loja de discos Sub Som, não é diferente. A gerente Inês diz que "o que mais sai são pesados e progressivos". 
As menininhas tijucanas passeiam pelo calçadão da Saenz Peña num doce balanço a caminho da C&A. Rafaela Stern, 10 anos, e Mariana Lang, 11, acham que "a Tijuca tem tudo e que ninguém precisa sair do bairro para se divertir. A não ser para ir à praia da Barra", dizem. 
Mas, então, o que falta na Tijuca? Uma "lanchonete que não seja poeira". Faltava, pois o Mc Donald's abriu há pouco mais de um mês e, para comemorar a data de inauguração, distribuiu um adesivo de carros com os dizeres: I'm Tijuca. Era só o que faltava. O exigente João Emídio, 15 anos, ainda quer mais. "O único defeito do Mc Donald's é não ter milk shake de ovomaltine", lembra, enquanto deixa escorrer a baba do sundae. Tijucano é assim mesmo. Nunca está satisfeito. 

18 de fev. de 2016

"Zimba", o teatro da Tijuca, é reinaugurado em grande estilo

Fachada do Zimba, na Avenida Heitor Beltrão: teatro foi reformado pela Secretaria Municipal de Cultura.

Após diversas idas e vindas nos seus quase 28 anos de existência, o Teatro Ziembinski foi finalmente reinaugurado ontem, 17 de fevereiro. A noite de gala começou a partir das 19 horas, quando o público convidado foi recebido por um coquetel servido pelos garçons do restaurante Otto. Holofotes discretos incidiam sobre a fachada do teatro, na Avenida Heitor Beltrão, e sobre o painel preenchido por logotipos da Prefeitura colocado no saguão.

A reforma do teatro, que ganhou novos assentos e palco, sistema de refrigeração e um café, nos fundos, virado para a Rua Urbano Duarte, foi toda custeada pela Secretaria Municipal de Cultura. Em 2015, foi divulgado um edital de ocupação do espaço pelo período inicial de dois anos. Licitação ganha, a partir de março, a nova residência artística do "Zimba" ficará a cargo da Opsis Soluções Culturais, gerida pelo casal Robson Sanchez e Monique Carvalho, presentes no evento. Marcelo Calero, jovem ex diplomata que agora ocupa o cargo de secretário, foi figura presente simpática em todo o evento.

Fernanda Torres durante o monólogo (Foto: Divulgação)
Às 20h25, a campainha soou e os convidados se direcionaram às dependências internas do Zimba. Por volta das 20h45, Fernanda Torres surgiu no palco encarnando a arisca senhorinha baiana criada por João Ubaldo Ribeiro na obra "A Casa dos Budas Ditosos" e adaptada para o teatro por Domingos de Oliveira. Em cartaz pela primeira vez na Tijuca, a platéia assistiu com atenção, em meio a risadas, a narrativa genial de peripécias sexuais evocada pela personagem, de 68 anos, notadamente feminista, esclarecida e progressista.

Quase duas horas transcorreram até o encerramento do espetáculo. Calero agradeceu a presença do público, mostrando em linhas gerais o "banho de loja" dado ao Zimba. Além disso, sublinhou a felicidade de estar podendo entregar um teatro como aquele à Tijuca, o bairro onde nasceu e foi criado. O ponto alto dessa conversa foi a reação quase imediata de Fernanda Torres, que também alegou ser tijucana e sócia do Tijuca Tênis Clube. Naturalmente, foi aplaudida com louvor.



A placa de reinauguração foi desvelada por Torres, Calero e Clara Becker, filha da atriz Cacilda Becker (1921-1969) e do ator Walmor Chagas (1930-2013), quem criou e inaugurou o Teatro Ziembinski em 6 de abril de 1988.

Segundo reportagem do Estadão, a cena cultural da Tijuca ficará ainda mais agitada. O Teatro Cesgranrio, cujo endereço não foi divulgado, será inaugurado ainda este ano na região num antigo auditório em reforma.

Panorama da Avenida Heitor Beltrão, onde se situa o Teatro Ziembinski junto à estação do metrô.

A peça "A Casa dos Budas Ditosos" será reapresentada no Zimba na próxima quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016, às 20h30. Os ingressos serão vendidos de quarta para quinta no local (Rua Urbano Duarte 30, [21] 2254-5399, estação São Francisco Xavier do metrô).

11 de fev. de 2016

A Sede do America, na Rua Campos Sales 118: sem perspectivas favoráveis


Rua Campos Sales 118: o estado agonizante da antiga Sede do America Football Club

Ultimamente, caminhar pela Rua Campos Sales 118 deixou de ser um programa agradável. Entre as ruas Martins Pena e Gonçalves Crespo, jaz o que um dia foi um dos clubes mais importantes da Tijuca – quiçá da cidade do Rio de Janeiro: o America Football Club. A Sede foi interditada em julho de 2014 pelo Corpo de Bombeiros, seguida pela suspensão de todas as atividades de caráter social pelo presidente Léo Almada devido à falta de verbas para a manutenção das dependências do clube.

Desde então, muito se especulou sobre o futuro do prédio. Por parte da assessoria de imprensa do America, havia a promessa de que o espaço seria cedido a incorporadoras imobiliárias visando a construção de uma nova Sede. Além disso, boatos apontavam que junto à nova Sede, um shopping center seria incorporado ao local com o objetivo de arrecadar mais fundos para a sustentação do clube.

Gonçalves Crespo x Campos Sales: fachada deteriorada também enfeia a paisagem do bairro.

Passados quase dois anos, nada aconteceu e o prédio continua ali em estado cada vez mais calamitoso. No programa Bom Dia Rio, da TV Globo, moradores no entorno do clube denunciaram as piscinas abandonadas do America, filmando-as do alto de um edifício residencial na Rua Gonçalves Crespo. O panorama é assustador, uma vez que o pedestre não consegue ter ideia do que há por trás dos paredões depredados da Sede.

Uma das grandes preocupações neste momento é a de que as duas piscinas abandonadas do America funcionem como focos de reprodução do mosquito da dengue e zika. Até o dia 30 de janeiro deste ano, a Secretaria Municipal de Saúde já havia registrado 76 casos de suspeita de zika na área da Tijuca e Alto da Boa Vista contra 90 casos em toda a Zona Sul e 212 notificações no subúrbio da Leopoldina e Ilha do Governador.

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