7 de set. de 2015

Em vídeo, o triste fim do estúdio Herbert Richers, na Usina

Imóvel da Herbert Richers S.A., na Usina, em imagem dos anos 2000: nostalgia no mercado brasileiro de dublagens

Na Conde de Bonfim, a extensa muralha vegetada com o letreiro HERBERT RICHERS S.A. 1331 brincou com o imaginário de muita criança que cresceu assistindo a produções estrangeiras dubladas da TV. Marca registrada do estúdio de dublagem homônimo situado na Usina, a expressão "Versão Brasileira, Herbert Richers" entoava a cada início de episódio de Capitão Planeta, Alf - O Eteimoso, A Família Dinossauros etc., além de filmes e telenovelas mexicanas como Um tirada pesada e A Usurpadora

Criada nos anos 1950 pelo empresário e produtor de cinema Herbert Richers, parceiro de Walt Disney, o estúdio conseguiu se tornar uma referência nacional na dublagem brasileira. Chegou a dominar 80% do mercado desse mercado no Brasil por várias décadas, empregando, em determinada época, mais atores e atrizes do que a própria Rede Globo. Era nos estúdios da Herbert Richers, aliás, onde a Globo filmava parte de suas novelas e minisséries antes de construir o Projac, principalmente nos anos de 1970 e 80.

Com a morte do seu fundador em novembro de 2009, dívidas surgiram e as atividades no local foram encerradas, dando início ao processo de deterioração do imóvel. Em 2012, logo após ser leiloada a uma instituição religiosa japonesa, a casa passou por um incêndio misterioso que prejudicou as instalações e, especialmente, o seu acervo. 

Marcio Seixas de Volta à Herbert Richers.


Dos tempos de ouro, restaram apenas a memória e a nostalgia. É o que mostrou, em vídeo exclusivo, o ator e dublador Marcio Seixas, dono da voz emblemática da Herbert Richers. Em visita ao imóvel neste mês de setembro, vimos um Seixas emocionado em regressar à empresa onde trabalhou por 24 anos:

"Cheguei neste endereço com o recorte de jornal onde estava escrito "Herbert Richers oferece chance para quem tem boa voz e leitura em voz alta; comparecer à Rua Conde de Bonfim 1331 para seleção". Cheguei aqui antes das 8 horas da manhã, com o coração aos pulos. Parei diante deste portão e fiz assim: "Meu Deus, o quê me espera aqui dentro?" Pedi a Deus que me encaminhasse, que guiasse a minha voz, que me abrisse a porta desta empresa para trabalhar", relatou ele, que durante muitos anos morou no edifício ao lado do estúdio.


O clima de melancolia atinge não só os antigos artistas que fizeram parte do time da Herbert Richers, como também os tijucanos. O número 1331 da Conde de Bonfim, tal qual o vídeo de Seixas ratifica, se trata hoje de um imóvel coberto por plantas em todo o seu terreno. Segundo informações do jornal O Dia, insetos e morcegos ocupam os corredores do extinto estúdio, além do cheiro de material incendiado ainda permear grande parte das salas.

Para o cineasta Gustavo de Brito Colombo, morador e ativista pela volta dos cinemas de rua do bairro, a Herbert Richers representa mais um tipo de ruína do audiovisual tijucano:

"Além das salas de cinema desconfiguradas na forma de shoppings, farmácias ou igrejas, a Herbert Richers representa outro tipo de ruína do circuito audiovisual do bairro. Ouvindo "versão brasileira Herbert Richers" é como acredito que a maioria dos estudantes que realmente se apaixonaram por cinema e TV quiseram em suas casas e, ainda crianças, tentar reproduzir ou emular as mesmas narrativas pela primeira vez".

Colombo sugere ainda que o local seja preservado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade com algum tipo de sinalização ou destinação de uso de atividades dedicadas exclusivamente ao ramo audiovisual. Seria uma medida minimamente coerente com a importância da Herbert Richers para o entretenimento brasileiro e para a Tijuca, bairro-sede da empresa. 

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...