8 de fev. de 2014

A legitimidade e preservação do nome dos logradouros: o caso do Largo da Segunda-Feira e a Praça Castilhos França

O Largo da Segunda-Feira

Era uma vez os resquícios de um certo canavial localizado na região do antigo Engenho Velho. Além de um arroio, havia igualmente ali uma ponte improvisada de madeira. Eis que numa segunda-feira do final do século XVIII apareceu, neste mencionado local, um homem morto. Um assassinato pra lá de misterioso, diga-se de passagem. O defunto, sem outra saída senão encarar a cova, foi enterrado ali mesmo no que se passou a conhecer, diante do fatídico episódio, como o Largo da Segunda-Feira. É o que nos conta Brasil Gerson em A História das Ruas do Rio (Lacerda Editores, 2000) sobre este pedacinho da Zona Norte, onde há o encontro da tríade de famosas ruas tijucanas: Conde de Bonfim, Haddock Lobo e São Francisco Xavier.

Diante deste nome tão pitoresco e da importância viária e econômica que esse encontro de ruas sempre emanou na região, o Largo da Segunda-Feira é uma grande referência tijucana, nome de logradouro que todos conhecem e reproduzem nas conversas cotidianas. É uma das tantas tradições da Tijuca! Por outro lado, parece que ultimamente a Prefeitura tem se esquecido de propagar oficialmente por aí a identificação do largo, seja nas placas de sinalização viária da CET-Rio, seja nos postes de esquina implantados pela Plamarc. O pedestre leigo que caminhar pelo Largo da Segunda-Feira dificilmente encontrará alguma menção ao título do largo, que apesar de soar como um "nome-fantasia", consta como topônimo nos mais importantes guias e mapas oficiais da cidade. 

A preservação do nome de lugares emblemáticos como esse é uma atividade que devia caber à Subprefeitura e à Associação de Moradores, pouco atuantes nesses detalhes, sendo esta última inativa desde meados dos anos 2000. Nos novos modelos da Plamarc, implantados em 2008 em todo o município, as placas de esquina fazem referência apenas às ruas Conde de Bonfim e São Francisco Xavier. Até 2007, na Conde de Bonfim com o largo, em frente ao Supermercados Mundial - o único estabelecimento da atualidade, aliás, que conserva uma placa de parede com os dizeres "Largo da Segunda-Feira" -, havia uma placa de orientação de destino da CET-Rio que indicava ao motorista, em fundo branco e letras de cor azul, a sua "chegada" ao largo. O mesmo acontecia na esquina da São Francisco Xavier com a Avenida Heitor Beltrão, onde havia a última placa de trânsito na região que mencionava o caminho para o Largo da Segunda-Feira (além de Túnel Rebouças e Estácio), removida sem maiores explicações durante o ano de 2013. 

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A Praça Castilhos França, nome oficial da
famosa Praça Afonso Pena: nome também
rejeitado pela sinalização oficial da Prefeitura
Distante apenas por algumas quadras do Largo da Segunda-Feira, temos a nossa querida e formosa Praça Castilhos França no perímetro constituído pelas ruas Doutor Satamini, Afonso Pena, Martins Pena e Campos Sales. Isso mesmo, caro leitor, aquela praça abaixo do nível da rua, toda ajardinada e arborizada com ipês, pau-brasis e sibipurunas que chamamos de Praça Afonso Pena, é denominada oficialmente por Praça Castilhos França. Há tijucanos das antigas afirmando que tal nome "nunca pegou", ou seja, que sempre foi inconscientemente rechaçado a favor do que chamamos costumeiramente de "Praça Afonso Pena". O desuso é tão notório que nem mesmo a Prefeitura - olha ela aí novamente - se preocupou em inserir o seu nome oficial nas placas de rua da Plamarc. Os tais postezinhos assinalam "Praça Afonso Pena" e ponto, da forma como é referenciada pela comunidade tijucana e carioca. 

Entretanto, é interessante observar a falta de critérios dos órgãos responsáveis na nomeação das ruas em suas respectivas placas. Veja bem, "Praça Afonso Pena" não é um topônimo oficial da cidade, mas figura ali nas placas em virtude de sua popularidade. O mesmo não se pode dizer da Praça Saenz Peña, por exemplo, cuja grafia oficial é Sáenz Peña, muito embora a grande maioria, inclusive a sua estação de metrô, se refira a ela com a letra S no final ao invés do Z e sem o acento agudo. Isso porque as placas oficiais da Prefeitura - não deixe de conferir quando você estiver passeando nos arredores do Shopping 45 -, o nome aparece sob a tipologia "original de fábrica": Saenz Peña. Mas, sem o acento agudo no A, sublinha-se.

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