15 de abr. de 2014

Barão de Itapagipe - Araújos, a ligação de ruas que nunca saiu do papel

Projeto viário Itapagipe-Araújos: passado.
Durante a segunda metade dos anos de 1970, a Tijuca ficou de “pernas para o ar” devido às obras do metrô na região. Demolições, fechamento de comércios, tapumes e muita poeira foram elementos pertencentes ao cenário tijucano na era pré-metrô, que só conseguiu ser inaugurado, depois de muitas postergações, em maio de 1982.

No entanto, não foi somente a entrega das estações metroviárias o produto destas obras. Muito da configuração espacial que existe hoje na Tijuca é advinda deste período, que culminou em grandes mudanças viárias, como a criação da Avenida Heitor Beltrão, por exemplo.

O trecho da Heitor Beltrão compreendido entre a Rua São Francisco Xavier e a Rua Pareto foi inaugurado em 1982, não só como uma nova opção viária de desafogamento do trânsito entre o Centro e a Tijuca, assim como uma forma de se fazer algo de “útil” diante de tantas demolições nesta reta por onde os trilhos do metrô foram implantados na sua parte subterrânea.

Naquela época, antes do metrô, vale lembrar que a Rua Conde de Bonfim, entre a Rua Pareto e o Largo da Segunda-Feira, era mão-dupla. Ou seja, todo o tráfego que existe atualmente na Heitor Beltrão, no sentido Centro-Tijuca, era contemplado pela Conde de Bonfim, o que caracterizava, sem dúvida, os famosos engarrafamentos tijucanos.

Uma das soluções para desafogar o caótico trânsito da Conde de Bonfim, segundo jornais da época, seria o prolongamento da Rua Barão de Itapagipe, que finda na Rua Valparaíso, até a Rua dos Araújos. O trecho, de aproximadamente 480 metros, compreendia um número expressivo de residências. Segundo O Globo de 19/07/1976, o então prefeito Marcos Tamoyo já havia assinado decreto autorizando a desapropriação de pelo menos 19 casas na faixa de domínio da nova rua.

Hoje sabemos que tal projeto nunca saiu do papel, talvez até por questões mais delicadas, já que a região era altamente adensada e ocupada predominantemente por classes mais altas – minha hipótese. Ainda nos anos 1970, as ruas próximas à encosta eram muito valorizadas e a favelização ainda não parecia ser algo tão alarmante como na década seguinte.

O esquema de trânsito na Grande Tijuca entre 1976 e 1982. Observe que a linha negra corresponde à reta dos trilhos do metrô, assinalando o traçado da Avenida Heitor Beltrão, inaugurada posteriormente.

Se houvesse sido concretizada, teríamos na atualidade mais uma opção viária no bairro conectando a região central e o Túnel Rebouças com os arredores do Colégio Batista através do eixo Bom Pastor – General Roca – Rua dos Araújos – Barão de Itapagipe. Vale ressaltar que a idealização da Avenida Heitor Beltrão, no trecho comentado, se complementaria com o prolongamento da Barão de Itapagipe num sentido de “ir-e-vir”.

Poucos se lembram, mas até abril de 2005, a hoje conhecida Avenida Gabriela Prado Maia Ribeiro, nos fundos da Praça Saens Peña, era chamada, igualmente, de Heitor Beltrão, mesmo que não tivesse conectividade alguma com a via de mesmo nome inaugurada em 1982. A ideia era justamente essa, a de se construir novas ruas que interligassem o Centro com a Tijuca de modo com que a Conde de Bonfim fosse desafogada.

A ligação Barão de Itapagipe – Araújos nunca foi levada adiante, assim como a “parte perdida” da Heitor Beltrão (que também já foi chamada de Rua dos Trapicheiros) nunca foi interligada com o trecho de maior movimento da "avenida-xará". Mas isso é assunto para outro tópico, já que a Rua Abelardo Chacrinha Barbosa, que margeia o Tijuca Tênis Clube, também se chamava Heitor Beltrão até 1989, o que indica que tais projetos começaram a ser executados, mas, por alguma razão, “se perderam no caminho”.

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