22 de mai. de 2015

Praça Xavier de Brito: "Casa-Grande & Senzala"?

Reproduções patriarcais na Praça Xavier de Brito: casa grande e senzala? (Foto: Emerson Guimarães)

Na manhã de hoje, recebi de um amigo o link para o texto "Severino, me ajuda", de autoria da jornalista Pollyanna Brêtas, que escreve para a Le Monde Diplomatique Brasil. No seu relato, em forma de crônica, Pollyana utiliza como pano de fundo a Praça Xavier de Brito, na Muda, para compor a crítica central da sua observação: a reprodução de comportamentos sociais, naquela praça, que aludem à imagem de casa grande e senzala filosofada pelo sociólogo Gilberto Freyre em seu livro homônimo de 1933. Segundo a autora, à sombra de flamboyants, os meninos, todos negros ou mulatos, puxam cavalos para deleite do ‘senhozinho’. A sociedade patriarcal brasileira está ali sintetizada sem que ninguém se dê conta. As crianças dos dois lados são exploradas.
Nesse artigo, a autora elucida os bastidores do fantástico e pueril parque de diversões da Tijuca, que, diante de tantas belezas e atrações tradicionais, como o passeio de charrete, por vezes tende a velar o árduo trabalho de crianças negras e mulatas – em geral, pobres e moradoras de favelas – que, num domingo de sol, quando deveriam estar se divertindo tais quais às crianças “brancas” da classe média na pracinha, por outra perspectiva, também estão lá, mas para servir a estas e a seus pais que contratam o serviço dos corcéis.

Leia o artigo de Pollyanna Brêtas na íntegra: http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1878

A sensibilidade de Pollyanna Brêtas não foi única. Em julho de 2013, o internauta Emerson Guimarães publicou uma foto da Praça Xavier de Brito, de sua autoria, na página Lente Tijucana do Facebook com a seguinte legenda: “Xavier de Brito... Alegria e tristeza andam juntos”. Tal imagem, que ilustra a portada deste post, mostra dois adolescentes negros puxando outros dois cavalinhos que transportam, aparentemente, irmãs gêmeas, bem pequenas, e “brancas”. A foto, bastante contemplativa, abre margem para reflexões sobre nossas questões sociais que conjugam consideravelmente com a imagem de casa grande e senzala apontada por Brêtas, na Le Monde Diplomatique Brasil deste mês.

Quem é leitor de O PASSEADOR TIJUCANO sabe bem que a Praça Xavier de Brito é a minha predileta na Tijuca. O lugar, bucólico, cheira à nostalgia, é lindo e ultimamente tem sido ponto de encontro para diferentes lazeres e serviços, como o Faz na Praça e a feirinha orgânica, que acontece todos os sábados. No entanto, a reflexão de Brêtas chega em hora boa como uma inestimável contribuição para todos os frequentadores e moradores dessa belíssima praça: uma vez que não depende exclusivamente de nós mesmos modificar determinadas estruturas sociais, no entanto, pelo menos devemos estar mais atentos à forma como esses meninos são tratados nos dias em que há passeios de cavalo por lá. Mais gentileza e mais educação a eles não são suficientes para “aliviar” suas condições, embora representem o ponto de partida para o estabelecimento de uma relação menos desarmoniosa e menos socialmente hierarquizada.

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