19 de mar. de 2014

Manhã dominical na Praça Afonso Vizeu

O chafariz francês do Alto da Boa Vista que, antigamente, localizava-se na Praça Onze

No fins de semana do verão, há os tijucanos que rumam para a praia ou para o clube, enquanto há outros que preferem fazer passeios tão refrescantes quanto, mas distantes da muvuca do balneário ou dos parques aquáticos. Incluo-me nesse último caso, consciente de que sou dos poucos que, ao invés de continuar seguindo viagem no 302 (antiga linha 233, Rodoviária-Barra da Tijuca) para a praia da Barra, acaba dando sinal e desembarcando ali mesmo na Praça Afonso Vizeu, o coração do Alto da Boa Vista.

Foi o que aconteceu nesse último domingo 16 de março, quando os termômetros da Praça Saenz Peña estavam marcando temperaturas ao redor dos 39 graus Celsius às 10h30 da manhã. Acenei, então, para o coletivo, muito embora já soubesse que não daria continuidade à viagem até a Barra da Tijuca. Pararia no Alto para desfrutar um pouco do clima ameno da região. Já tinha experimentado o passeio outras vezes e gostei, principalmente porque não tenho carro; vivo do transporte ativo. Assim, a praticidade de se passear pelo Alto indo e voltando de ônibus é um privilégio, sobretudo para nós, tijucanos, que contamos com tantas linhas que percorrem o Alto da Boa Vista, nosso quintal.

Apesar de muita gente reclamar deste percurso, não tem nada mais gostoso do que “subir” o Alto por meio de suas estradas longas e sinuosas. Basta o ônibus sair do Largo da Usina e adentrar a Avenida Edson Passos para o meu humor melhorar, salvo em casos de se estar com hora marcada na Barra e, por isto, desejar que o ônibus voe! Mas, repare bem, caro leitor: neste trajeto, sente-se a temperatura cair progressivamente enquanto os tipos arquitetônicos mais imponentes da região se descortinam pela janela do veículo. O cheiro de mata fresca também invade as nossas narinas, sem falar no ruído relaxante de uma ou outra queda d’água que aparece no meio do caminho. A urbe, ali, fica definitivamente pra trás.

A Praça Afonso Vizeu congrega os elementos ideais para a realização de atividades físicas e recreação infantil
Exemplo art déco na Avenida Edson Passos

O Bar da Pracinha, ao fundo, com o chafariz
Após alguns sacolejos por ruas que serpenteiam a floresta, o ônibus chega à parte plana do Alto, a Praça Afonso Vizeu, após uma viagem de aproximadamente 20 minutos a partir da Praça Saenz Peña. Essa praça também pode ser vista como benção, pois trata-se de um dos espaços públicos mais bonitos do Rio! Colada à entrada da Floresta da Tijuca, a Afonso Vizeu é arejada, infinitamente arborizada e, para completar, bem conservada. Sempre quando chego por lá, fico hipnotizado com o chafariz no centro do local. Obra do renomado arquiteto francês Grandjean de Montigny, ele conserva água fresca e limpa cujo reflexo, graças à luz solar tão potente das manhãs, incide sobre a base do monumento criando, assim, um visual incrível.

Em determinadas épocas do ano, o solo da praça fica todo coberto por um tapete de pétalas cor-de-rosa, todas despedaçadas, caídas de alguma árvore dali que eu não sei o nome. Parece cenário de casamento a céu aberto. Ciclistas que vêm do Horto e da Vista Chinesa, em trajes apropriadamente desportivos, perpassam pela Afonso Vizeu rumo à Floresta, enquanto famílias e casais realizam o desjejum ou tomam um simples choppinho nas mesas ao ar livre do Bar da Pracinha, extinto Robin Hood Pub.

Quem não quiser consumir na Praça Afonso Vizeu – no Bar da Pracinha, melhor dizendo –, não precisa desistir de visitá-la. Recomenda-se levar um livro ou uma cadeira de praia; vá acompanhado de amigos, aproveite o entorno bucólico para relaxar ao gorjear dos passarinhos. Observe, também, a diversidade de cores da flora local. Admire as casas que margeiam a praça, como o belíssimo exemplar art déco de Lucrezia Maria Petrelli, com seu belo painel em motivos florais na fachada. Ou então, bem ali na esquina com a entrada da Floresta, a nobre casa construída em 1865 pelo inglês Bartlett-James.

Depois de tudo isso, de espreguiçar-se e alongar-se, de sentir ar puro, caminhe um pouquinho mais e vá até à Cascatinha, distante apenas cinco minutos a pé da praça. Deixe-se magnetizar por essa cortina de água; adormeça, em pé mesmo. Se a temperatura aumentar - o Rio é úmido, sente-se calor facilmente -, refresque o rosto com a água gelada e natural que sai da boca de um "leão" que a despeja sobre uma luxuosa, mas velha banheira oitocentista. Seu dia estará salvo, garanto. E tudo "patrocinado" pela Tijuca.

A Cascatinha, a cinco minutos a pé da Praça Afonso Vizeu

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