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Victor Belart: FAZ NA PRAÇA |
Por trás dessas iniciativas que estão incrementando o entretenimento (público) da Tijuca está o coletivo FAZ NA PRAÇA (ou melhor, Fluxo de Articulação de Zona na Praça), formado por um grupo de amigos do bairro engajados em trazer de volta à rotina dos cariocas o hábito de vivenciar as praças como local de interações e desfrute. Nesse grupo, Victor Belart, tijucano, jornalista e produtor cultural de 24 anos, tem se mostrado um notório representante do FAZ NA PRAÇA. Durante a festa da Saens Peña, Belart ganhou aplausos instantâneos após anunciar, no palanque, que a praça “não devia ser o lugar que a gente cruza apenas para ir ao dentista”, evidenciando a proposta e o lema do FAZ NA PRAÇA em tornar esses espaços públicos da região da Tijuca em um grande palco de intervenções coletivas e alternativas ao circuito tradicional de arte e entretenimento.
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Aniversário da Praça Saens Peña deste ano: curadoria musical e artística a cargo do FAZ NA PRAÇA. Créditos: André Valente. |
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Primeira exibição do Cine Xavier: cinema ao ar livre na Praça dos Cavalinhos. |
O passeador tijucano conversou brevemente com Victor sobre a atuação do FAZ NA PRAÇA na Tijuca, além dos planos e novidades para o restante do ano:
De onde surgiu a ideia de fazer o evento em celebração ao 104º aniversário da Praça Saens Peña no último dia 30 de maio, levando em conta que, inicialmente, grande parte dos eventos do FAZ NA PRAÇA estava sendo realizada na Praça dos Cavalinhos?
Victor Belart: Já tínhamos interesse de fazer alguma atividade na Saens Peña, mas o evento do dia 30 não foi iniciativa nossa. A Associação Comercial e Industrial da Tijuca (ACIT) faz todo ano uma atividade na praça comemorando o aniversário dela e esse ano nós fizemos a curadoria musical e divulgação. Mas a iniciativa é originalmente da ACIT e rola ano a ano, agora especificamente para esse último evento, a ACIT teve alguns incentivos da Secretaria de Cultura para pagar certos custos estruturais. Já a Xavier de Brito [Praça dos Cavalinhos] virou uma espécie de laboratório nosso porque tudo começou por lá. Eu e a Tais Barcia fizemos um aniversário na Praça e desse evento a galera que apareceu decidiu se juntar pra fazer mais vezes. Muita gente da Tijuca tem história desde criança com a Xavier de Brito, mas na vida adulta esqueceu o sentido daquele lugar. Aquela praça tem especificamente algumas questões especiais, desde o choque cultural e social das crianças que habitam o espaço ou a própria ideia de já ser uma praça vista como “um fim”. Dificilmente alguém cruza a Xavier de Brito de passagem, todo mundo que está ali vai pra ficar pela própria praça. Esse tipo de Praça, que já tem uma movimentação própria, tem muito a ensinar para todos nós e também por isso pegamos o espaço como “laboratório”.
Qual sua função no FAZ NA PRAÇA? Você é o "líder"?
VB: Na verdade não tem nenhum líder; a ideia do FAZ NA PRAÇA é para ser um movimento orgânico. Na real, no início, era pra ser um movimento tão livre que poderia ocorrer ações do FAZ NA PRAÇA sem que nenhuma das 8 a 10 pessoas que fazem parte desse grupo estivessem envolvidas. Como se o FAZ NA PRAÇA fosse a ideia de fazer indiscriminadamente as coisas em praças, mas acabou que por algumas questões específicas de responsabilidade temos tomado um pouco de cuidado com isso. Se acontecer um FAZ NA PRAÇA sem nós e der algum problema, a responsabilidade recai sobre a gente, então queremos ter um pouco de cautela nesse sentido. Mas em todo caso, o FAZ NA PRAÇA é um grupo não muito rígido quanto à quantidade de pessoas, mas que varia sempre em torno de 8 a 10 e que querem levar atividade e movimento ao ar livre pela nossa cidade.
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Baile da Minha Rua, na Praça da Bandeira: moradores mais antigos ainda resistem. Créditos: Felipe Bauerfeldt (Deu Zebraa). |
Vocês pretendem manter uma linha de ocupação de praças apenas na região da Tijuca (vide o Baile da Minha Rua, na Praça da Bandeira), para consolidar a programação cultural do bairro ou a proposta é expandir para outras regiões?
VB: Temos esse carinho especial pela Tijuca porque a maioria de nós é daqui e sabemos da falta de atividades do gênero pela área. Na verdade, o bairro tem melhorado muito nesse sentido também. Surgiram novos espaços de coworking, algumas atividades ao ar livre e até mesmo noturnas, mas o bairro ainda tem essa concepção de ser um “lugar somente para dormir”. A gente acaba vestindo muito essa bandeira tijucana porque crescemos aqui e sentimos a falta de atividades do gênero, mas a ideia do FAZ NA PRAÇA é que por todo o Rio de Janeiro se faça atividade na rua, ou seja, botar propriamente a praça no centro do debate urbano. Sempre falamos que as praças talvez sejam um dos únicos lugares onde a democracia realmente seja levada ao pé da letra. Além disso, a questão da praça é importante para ampliar nossa ideia de cidade; quando saímos de casa e vivemos somente a nossa própria rotina, tendemos a não ter muita sensibilidade com a realidade do outro. Num evento de rua sempre vai ter um morador de rua e alguém que só frequenta shopping ali naquele mesmo espaço e ambos estarão nesse lugar para estar “além” do seu próprio estereótipo ou da própria rotina. Esse tipo de encontro rola naturalmente é só tende a ser positivo para todos os envolvidos.
Quais os próximos eventos? Novidades? Fiquei sabendo do Cine Xavier. É você quem está coordenando?
VB: Antes de tudo, precisamos terminar de resolver alguns problemas ainda pendentes do aniversário da Saens Peña. Num futuro muito próximo queremos fazer esse cinema na Xavier [a entrevista ocorreu antes da efetivação desse evento, no último dia 28 de junho], mas também nos sugeriram o Grajaú. Também temos a ideia de fazer alguma ocupação na UERJ, que não deixa de ser um espaço público do nosso bairro e que ainda tem uma ideia muito vertical, aquele cinza, aquele prédio gigante. Conhecemos uma galera recentemente que quer tentar fazer com que a UERJ tenha uma ideia mais plana, mais de praça.
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